11/02/2018 11h54
Trilha Errante de Bashô
(Alberto Marsicano)
Matsuo Bashô nasceu em 1644 em Ueno, pequena cidade japonesa da província de Iga. Seu pai, Matsuo Yozaemon, era um samurai a serviço do shogunato da família Todo que vivia como professor de caligrafia. (Existe grande similitude entre a arte da espada (Ken-dô) e a arte da caligrafia (Sho-dô). Mas a sorte de Bashô estaria traçada aos nove anos, ao tornar-se amigo do jovem Todo Yoshimada, herdeiro do poderoso clã. Ambos são iniciados na arte da poesia, sob a orientação de Kitamura Kigin (1624-1705) discípulo do renomado Teitoku. Bashô adota o nome literário de Sobo e seu companheiro de Sengin. Estudam com este mestre anos a fio a caligrafia, a poética japonesa e o verso clássico chinês. O primeiro haikai de Bashô data de 1662 quando contava com 18 anos. . haru ya koshi toshi ya yukiken kotsugomori . chegou a primavera ou se foi o ano velho? véspera do ano novo. . Referência: MATSUO Bashô, Trilha Estreita ao Confin ( tradução: Kimi Takenata, Alberto Marsicano), São Paulo, Iluminuras, 1997 Publicado por Benedita Azevedo em 11/02/2018 às 11h54
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. 24/01/2018 01h51
Primeiro Renga- Via Láctea - Homenagem ao mestre "Guin Gá"
Primeiro renga do Grêmio Haicai Águas de Março, em homenagem aos dez anos do grêmio e ao querido mestre Douglas Éden Broto "Guin Gá". ---------------------------------------------------------------- .RENGA "A Via Láctea"---Comentários: Carlos Martins OUTONO 01 No céu já escuro Vejo piscar as estrelas... Ah... a Via Láctea! ............GuinGá 02 Mais brilhantes, nesta noite, negros olhos da menina. ...........Carlos Martins . No princípio era o Caos... Depois, surgiu a massa luminosa das estrelas e, entre elas, a Via Láctea, que alimentou com seu leite primordial o olhar e o coração dos poetas (sem flexão de gênero). E nesse caldeirão de energia e cor, o haijin, o Sennin, GuinGá está e, como Mestre da Arte do haicai, nos indica o início da jornada do renga, do caminho do renga – do “rengadô”. Voltada sorridente para o alto, o rosto todo expressão de encantamento, a menina sorri com os olhos, ao descobrir tessituras na noite; formas conhecidas de animais, pessoas, objetos ou meramente luz! . 03 Alegria na praça – Gira a Lua no céu, ciranda no chão. ...........Regina Alonso 04 Com diversão para todos a noite fica mais longa. ...........Carlos Viegas. . Um povoado, uma vila, uma praça de grande cidade, não importa. A noite está clara. A lua ilumina tanto as nuvens que parece dia. Em seu movimento de rotação, ela dança no céu inspirando meninas e meninos na noite de sorrisos. O que está em cima é como o que está em baixo e, assim, tem-se a unidade. Movimento é dia; repouso é noite. É próprio do humano buscar a felicidade e o contentamento e, assim, ninguém quer dormir, todos querem girar... e girar ... e... . 05 Sempre pontual – O relógio do universo Não falha na agenda. ............Fiore Carlos. 06 cresce pela estrada afora a luz branca da paz. ...........Regina Coeli Nunes. . O homem criou o tempo; o universo, a eternidade. Em algum lugar estão marcadas as ocorrências das marés, as órbitas de cometas e planetas, os voos regulares das aves, a forma repetitiva e perfeita de plantas e a composição das rochas. E, do silêncio do espaço, uma luz que brilha de dia e de noite, orienta o caminhante em sua jornada. . 07 Manhã no jardim - O grilo volta a cantar se tomo distância ..........AlvaroPosselt 08 Caminha pelo gramado um casal de namorados. ..........Benedita Azevedo. . O peregrino para por um instante e inicia um descanso contemplativo, mas outros peregrinos menores desse palmilhar também o contemplam. O silêncio é recíproco, o respeito também. E, ao se afastar, cada um diz adeus à sua maneira. Alheios a outras manifestações sensíveis, os amantes só desejam cumprir a missão de seus corações e se integram em um plano maior. . INVERNO . 09 Manhã gelada - O calor vem da mensagem do amigo distante ..........Rose Mendes 10 Os amigos abraçados ocupam toda calçada. ..........Carlos Martins . Os laços não requerem a presença do tátil. A sinfonia composta há dois séculos, desperta lágrimas e entusiasmo na sala de concertos de hoje. A carta carinhosa é um holograma do espírito de quem a escreveu, que sorri para o destinatário emocionado. Um mundo feito de respeito e carinho? Se alguns poucos ocuparem um pequeno espaço, já é o início... . 11 Debaixo da ponte a lona é curta pra dois – Tarde de inverno ..........Regina Alonso 12 em baixo do cobertor só se vê quatro pernas! ..........Elisa Campos . Ah, o frio fere com cortes na pele é o mesmo que pode aquecer a alma. Se o desejo for de dividir, meio corpo quente já faz suar, e mesmo que o vento frio varra por toda a noite espaço ribeirinhos ou citadinos, o sorriso do companheirismo aquece. . 13 Fogueira acesa - Ninguém se lembra do frio ao som das risadas. ..........Sandra Hiraga. 14 com as lembranças do dia A voz de todos se aquece. ..........Severino José . O “luau” de jovens ou o encontro de outsiders mendigos ou poetas loucos, talvez ainda debaixo da ponte ou nas areias de uma praia reservada, tem a mesma natureza: liberdade! Natureza essa que frio algum corrompe, se houver companheirismo e risadas. Disse o poeta um dia que ele colecionava lembranças, pois no fim da vida seriam elas as únicas estrelas a iluminar o céu de sua velhice. A cumplicidade da troca de lembranças, aquece... . 15 filhos no quintal com alegria a correrem-- esfregam as mãos. ..........Mateus Nascimento. 16 penduradas no varal roupas balançam ao vento .........Regina Alonso . O espaço junto à casa, ainda é casa. E casa é reunião. Se for reunião de amor, a alegria é certa. O poeta contempla a família como se fosse a lua: respeitosamente, sensivelmente, emocionadamente. Como um filme de imagens oníricas, as roupas de diversos tamanhos e formas, balançam suaves, pela quase-brisa da primavera que se anuncia. . PRIMAVERA . 17 Peças coloridas, lençóis brancos como a neve— Juntos, luz e cor. .........Nilza Azzi 18 as cores da bougainvíllea cobrindo toda a murada ..........Benedita Azevedo. . Roupas brancas e coloridas refletem a luz do sol, mas uma cor viva atrai a atenção do dia. No muro esparrama a natureza que se faz presente: é primavera, com primavera! O muro de cor invernal recebe vida. O haijin atento agradece aos deuses dos varais e das cercas vivas e mortas. . 19 Bonito de ver no bico do passarinho um naco de amora ........Rose Mendes 20 Cata-ventos no jardim giram ao sabor do vento. .........Sandra Hiraga . Agora, come-se um naco aqui, um teco ali, debaixo do sol: a vida tem gosto de amora... Pergunte pro Guilherme! A menina de rosto tingido de bordô levanta seu cata-vento à brisa perfumada do pomar. Corre, corre. Seu chapéu cai e ela quase voa, espírito livre... Vai...avoa! . 21 O branco entre o verde No fim do grande quintal - Flor de laranjeira ..........Marco Aurélio Goulart 22 Se espalha pela varanda um aroma adocicado ..........AlvaroPosselt . O perfume adocicado atrai olhares e corações dos passantes para a nuvem branca e aromatizada que desceu do céu, e contrasta com a verdejante presença no jardim, extensão da floresta, do outro lado do rio. O haijin, em sua espreguiçadeira, fecha os olhos e deixa o espírito flanar pelos mistérios dos sentidos, sentindo-se uno com o cenário, com a tela pintada pelo Insondável. . 23 Ah, linda manhã ! a clívia deu ar de sua graça quantos botões... ........Elisa Campos 24 rumor leve no ouvido abelhas pousam e partem ........Severino José . A flamejante flor já anuncia o calor dos ventos quentes que virão, no estio. Os dias estão mais definidos em suas luzes e temperatura. O trabalho de pessoas, poetas e animais feito com mais entusiasmo e ritmo. O fluxo das gentes nas cidades, dos baldes de mel das abelhas e das estrofes dos poetas se expande. Tudo é vida e completude! . 25 Bálsamo na alma --- Estalado de bom dia do colibri. .........Carlos Martins 26 a mulher em seu caminho para e alisa os cabelos... .........Rose Mendes . Não, não há mais margem para dúvidas e hesitação! A natureza vibrante fala por todos os seus poros! Flores, pássaros e insetos são companheiros de caminhada da mulher que fala com a alma. . VERÃO . 27 Um riacho adiante — No dia de Iemanjá lavadeiras cantam. ..........Nilza Azzi 28 Ondulante correnteza, um vulto joga a tarrafa. .........Benedita Azevedo. . A água atenua o calor da estação tórrida e seu espírito ancestral na forma de deusa mãe, cobra seu óbolo de melodias de alma, cantadas por mulheres fortes. Perto dali, homens retiram da água o alimento do corpo. O suor de seus corpos alimenta e reverencia o rio que tudo dá e recebe, fonte de vida e de morte. Emblema da impermanência e da passagem. . 29 pausa no caminho – do outro lado da margem o voo da garça ..........Regina Alonso 30 Enfeite da natureza Poema que já vem pronto .........Fiore Carlos. . O peregrino pousa o cajado, abana o rosto com o chapéu e se faz um com a terra e seres vivos. Pássaros e ventos não se importam com sua presença e seguem seu ritmo e natureza, desempenhando o necessário movimento que integra o Grande Ser e Lhe dá sentido. Tudo se junta como em um grande mosaico em que alguém, distante, vê a imagem completa. Sabedor de seu real tamanho, para o peregrino o que importa, é que tudo é somente poesia. O som e o silêncio: a luz e a escuridão; o amor e o ódio. No verso, tudo é verso... e anverso. . 31 Manhã radiante espalhadas pelo parque flores de alamanda. .........Carlos Viegas 32 Também as folhas caídas onde brincam as crianças .........Marco Aurélio Goulart . Chega o tempo da desaceleração. O espírito se aninha, se aconchega e busca a companhia dos iguais na caminhada. Já não quer vencer montanhas as fortes passadas, mas observar os montes milenarmente estáveis e o reflexo das flores amarelas do caminho nos seus olhos e nas encostas. O haijin, de coração mais enternecido agora, deixa escorrer uma lágrima aos estalos das folhas pressionadas por pezinhos infantis. No mais, tudo é silêncio... . OUTONO . 33 No banco da praça, vovó e vovô se abraçam... piscam as estrelas. .........Mardilê Friedrich Fabre. 34 neste local costumeiro onde estão sempre entre nós. .........Regina Coeli Nunes . O ápice da vida não é o seu fim, mas o coração invadido pela serenidade completa. As almas que se encontraram, que cresceram juntas alimentadas pela felicidade ou sofrimento, agora são homenageadas pelas estrelas... A Via Láctea as reverencia. Novamente, não se está sozinho. O caminho é de mão dupla. Observa-se e se é observado... . 35 Águas de Março espalha-se pelo Brasil... dez anos de história. ........Benedita Azevedo. 36 Raiz do haicai fincada pelo "Nenpuku" Guin Ga. ..........Carlos Martins. . Um dia, um navio aportou em Santos trazendo pessoas do país do sol nascente para o país de sol o ano inteiro. Na bagagem, sonhos, costumes e arte. Na arte, um modo diferente de poesia, vinda de fora para dentro, objetiva. Na poesia, um poetar que observa a beleza e a mudança da vida que se apresenta aos sentidos. O registro de um botão de flor que eclode, do perfume de uma comida feita pela mãe; do eriçar de pelos ao vento frio ou do canto melódico de um pássaro na alvorada. No registro, a assertividade e economia de palavras, mediante apenas o necessário – nem mais, nem menos. No necessário, apenas o click, o instante, o satori, seja registrando o desenrolar das estações, como faziam os antigos mestres japoneses, mediante o kigo, ou termo de estação, seja somente o instante, o que o olhar da alma do poeta vê. No ensinar dos mestres se firmou um modo de ver e mesmo de exercer uma missão no mundo, seja plantando um país de haicai, como Nenpuku Sato; no magistério em grupos de haicai como Mestre Hidekazu Masuda Goga ou feito uma semente pioneira, em um grupo específico de haicai, como o Grêmio Águas de Março, por um Mestre-Capitão dos Mares - Douglas Éden Brotto, nosso inesquecível Guin Ga. Benedita Silva de Azevedo e demais haijins do Grêmio foram seus companheiros nessa obra que passou a fazer parte da história da poesia carioca. . No corte brilhante das metades do caqui Afloram sementes... ............Guin Gá E você, Guin Gá, foi uma e os inspirados haijins do Grêmio de Haicai Águas de Março foram outras tantas, para o florescimento do haicai carioca e nacional. . Namastê! Verão de 2018 ----------------------------------------------------------------- Autores participantes: Alvaro Posselt, Benedita Silva de Azevedo, Carlos Martinss, Carlos Viegas, Douglas Eden Brotto, Elisa Campos, Fiore Carlos, Marco Aurélio Goulart, Mardilê Friedrich Fabre, Mateus Nascimento, Nilza Azzi, Severino José, Regina Alonso, Regina Coeli Nunes, Rose Mendes e Sandra Hiraga Yoshimura. - Agradecemos ao caro amigo haijin, Carlos Martins pelos excelentes comentários ao nosso 1º Renga do Águas de Março e a todos os confrades que se animaram a participar na realização das estrofes distribuídas. - Rio de Janeiro, 06 de fevereiro de 2018, às 19:12 Grêmio Haicai Águas de Março. Emi (恵美) Benedita Azevedo (coordenadora) Publicado por Benedita Azevedo em 24/01/2018 às 01h51
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Renga do Grupo HAIKAI & SEUS ASCENDENTES & DESCENDENTES
ARQUIVO 02
HAIKAI & SEUS ASCENDENTES & DESCENDENTES . I – ASCENDENTES DO HAIKAI: . WAKA - TANKA - RENGA . 1- O WAKA, uma estrofe de 5 versos (5-7-5-7-7) era escrito por uma só pessoa, principalmente para declarações amorosas. . 2- TANKA evolução do waka. duas estrofes, a primeira com 3 versos (5-7-5) e a segunda com 2 versos (7-7) escrito por uma pessoas. . 3- RENGA - O tanka passa a ser escrito por duas pessoas. Um poeta escrevia o terceto (5-7-5) e outro o dístico (7-7). Com o passar do tempo, os poetas boêmios passaram a escrever um tanka, após outro e iam encadeando as estrofes, repetindo, até completarem 100 estrofes. Escrito por várias pessoas. . HAIKAI ENCADEADO, (HAIKAI RENGA, HAICAI ou RENKU) é um conjunto de poemas formulados por mais de duas pessoas, segundo regras rigorosas herdadas do RENGA. . HAIKU ( haikai ) – Bashô no Século XVII separa o HOKKU, primeira estrofe do renga e passa a escrever e ensiná-lo como texto independente. . II – DESCENDENTES DO HAIKAI: . 1. HAIGA: Desenho (foto) + haicai 2. HAIBUN: Prosa + haicai . Praia do Anil, 09/01/2018 Benedita – Emi ---------------------------- Renga - "Chuva de verão" completo. Incluindo comentários da Regina Alonso. Caros Haijins amigos! Agradeço de coração, a todos que se dispuseram a nos atender, na solicitação de mostrar o que seria um RENGA. Já que o nosso grupo destina-se ao estudo e divulgação do WAKA, TANKA, RENGA; HAIKAI. HAIGA; HAIBUN e SENRYU. Só mostrar um já realizado não daria a dimensão das dificuldades de encadear as várias idéias do grupo participante. Já houvera falado com o Carlos Martins sobre realizar um renga neste grupo. A oportunidade aconteceu com a chegada da Regina Alonso. O desafio veio com a postagem do haiga do Carlos "Chuva de verão". Regina pediu licença e juntou um dístico ao haicai dele, formando um belo tanka. Vi no título semelhança com o renga do qual eu participara, em 2010, sob a orientação do Professor, Paulo Franchetti, na (Lista Haicai, comandada por ele e Rosa Clemont). Timidamente, compus a 3ª estrofe e perguntei se poderia dar sequência ao tanka. Tive o incentivo dos dois. Foi uma experiência incrível. Numa semana completamos as 36 estrofes. Grata a todos que prontamente atenderam ao meu convite para que fizessem suas estrofes, àqueles que solicitaram participação e aos que exigiram, perguntando se o renga era restrito a três pessoas. Muito obrigada a todos. Foi uma experiência fantástica de grande aprendizado e ousadia, de aprender fazer... fazendo! Obrigada Carlos Martins, pelas palavras sempre positivas, leves, ZEN! Obrigada, Regina Alonso, pelo apoio e colaboração. Queremos contar com a sua experiência para comentar o encadeamento das estrofes. Fechando assim, nosso primeiro RENGA VIRTUAL do Grupo: HAIKAI & SEUS ASCENDENTES E DESCENDENTES. Verão de 2018 Emi (恵美) Benedita Azevedo ---------------------------------------------------------------------------------- RENGA : Chuva de verão 01 Chuva de verão – Barulho de água na calhas, no mais, o silêncio. ---------------------Carlos Martins 02 Dormem juntinhos na gruta o rebanho e o pastor. -------------------- Regina Alonso 03 Guardando a entrada a cadela de vigia -- Estronda o trovão. --------------------Benedita Silva de Azevedo. 04 "O relâmpago ilumina as casas na noite escura". --------------------Carlos Martins 05 Tempo nebuloso risca o céu de colorido – Duplo arco-íris. --------------------Sandra Hiraga 06 No pontilhão da cidade sorri casal de mendigos. ----------------------Regina Alonso. 07 Voluntário chega com uma sopa quentinha após o toró -------------------Clara Znifer 08 Na frente da Catedral os moradores de rua. -------------------Nilza Azzi 09 Bando de andorinhas - O céu por alguns instantes no olhar do mendigo -------------------Rose Mendes 10 Uma ponta de saudade passa pelo pensamento. ----------------Sandra Hiraga 11 Revoada de pombos em torno do coreto --- Manhã de verão ----------------Carlos Martins 12 A criançada na creche corre na recreação! ----------------Benedita Azevedo. 13 As folhas ao sol lembram a arte da Criação por puro Amor... -------------- Antonio De Jesus Anjes 14 Caminhantes continuam pela alameda em flor. --------------Regina Alonso 15 O sol ardente plácido corre o riacho homens conversam -------------- Antonio De Jesus Anjes 16 Dois pescadores com anzol enchem a cesta de peixes. ---------------Benedita Azevedo. 17 Tarde preguiçosa ― Em uníssono as cigarras na mata do rio. ----------------Carlos Martins 18 voa, voa um passarinho sobre o mistério da tarde ---------------Rose Mendes 19 Apenas silêncio e o arrebol de verão - Olhar para o céu... -------------Marco Aurélio Goulart 20 Lá sobre a Serra do Órgãos a cachoeira murmura ---------------Benedita Azevedo 21 Uma gota d’água Pinga, pinga persistente Perfurando a rocha -------------Pedro Caluchi 22 a tarde vai se esvaindo e esta chuva que não cessa. ------------Elisa Campos 23 vai chegando a noite cantam os pássaros pretos entre o bambuzal -------------Severino José 24 num farfalhar de folhas meus passos seguem a trilha --------------Elisa Campos 25 Noite silenciosa... só o grito da coruja rasga a escuridão! --------Benedita Azevedo. 26 Passa, na noite sem lua, o jovem casal em juras. --------------Carlos Martins 27 Silêncio na noite aves pousadas nos ramos anjos sobre a terra --------------Rose Mendes 28 Nem passarinhos verão a morna chuva de estrelas. ------------- Marco Bastos 29 Chia no fogão a comida preferida pescada frita ----------------Regina Alonso 30 a mesa posta pra dois e um som suave no ar. --------------Benedita Azevedo. 31 por todo o quintal sinais visíveis de chuva ah!, a brisa fresca! --------------Severino José 32 ao arrepio do sabiá horas passam no telhado. 33 amoroso encontro a noite cai na cidade não há solidão --------------Rose Mendes 34 Ao sopro do vento frio um abraço aquece o casal. ---------------Marco Aurélio. 35 crianças brincam com um enorme cipó ― Campo de verão. ---------------Carlos Martins - 36 Sombra de corpos no chão e lá se vai a manhã... - Praia do Anil, Magé - RJ 14-01-2018, antes do Fantástico, nosso fantástico RENGA! Às 20h 41m. Benedita Azevedo. ----------------------------------------------------------------------------------- Encadeado, pois, hora juntamos primeiro o terceto com o dístico, e a seguir, o mesmo dístico com o próximo terceto, e assim, sucessivamente.
RENGA: Chuva de verão:..............Comentários: Regina Alonso - Chuva de verão – Barulho de água na calhas, no mais, o silêncio. Dormem juntinhos na gruta o rebanho e o pastor. .........Carlos e Regina - Os primeiros versos trazem com sensibilidade e maestria a chuva de verão, forte e rápida: resta apenas o barulho sutil da água nas calhas. No dístico, o silêncio prevalece na quietude do sono do pastor (homem que cuida, tal qual a mãe) junto ao rebanho (a lembrar os filhos) na gruta (útero primevo). O renga é prática antiga usada muito antes de Bashô (séc XVII): considero este início muito feliz e adequado ao renga, pois os versos se encadeiam numa cena, ritmo e silêncio que traz a natureza (homem, chuva, animais) no tempo de hoje (agora) mas que nos permite sentir o outro tempo (distante, anterior) longíquo quando começou o renga. - Dormem juntinhos na gruta o rebanho e o pastor. Guardando a entrada a cadela de vigia -- Estronda o trovão. ----------Regina e Benedita. - Mudança do ambiente com sutileza, da quietude para o movimento/barulho: o verso 'a cadela de vigia' sugere que algo pode acontecer... E o silêncio é quebrado com o barulho do trovão. - Guardando a entrada a cadela de vigia -- Estronda o trovão. "O relâmpago ilumina as casas na noite escura". ----------Benedita e Carlos - As casas estarão à escura por que é noite ou faltou luz com o estrondar do trovão? O que importa é o contraponto do clarão com o escuro da noite, trazendo o belo mesmo diante do perigo... 'do homem que vive o risco de viver', apenas viver é o que vale! Contrapondo também ao guardar (remete à vigilância, em silêncio e com atenção) a entrada da gruta, o barulho do trovão. O encadeamento se faz por esses contrapontos... - "O relâmpago ilumina as casas na noite escura". Tempo nebuloso risca o céu de colorido – Duplo arco-íris. ----------Carlos e Sandra - Ainda é verão (o kigo arco-íris é típico de verão, quando apresentam arcos bem nítidos e grandiosos), mas o renga é levado para outro lado, da escuridão/negror, do barulho e talvez medo, para o arco-íris em cores duplicadas, trazendo luz, alegria com muita sutileza: nada é explícito... apenas sugerido. - Tempo nebuloso risca o céu de colorido – Duplo arco-íris. No pontilhão da cidade sorri casal de mendigos. -----------Sandra e Regina - A alegria da luz e da cor é ampliada até aos mendigos, que sorriem, esquecidos talvez das agruras da vida de privações diante da vivacidade (que bem caracteriza o verão) sugerida. Achei muito adequado ao andamento do renga, o 'casal' numa relação sutil com o 'duplo' arco-íris, reforçando a sensação de que os sonhos efervescem nesta estação. - No pontilhão da cidade sorri casal de mendigos. Voluntário chega com uma sopa quentinha após o toró -----------Regina e Clara - Oportuna não só a chegada do voluntário com a sopa quentinha, amarrando bem com os mendigos num clima de solidariedade, mas também 'o toró' que quebra o andamento anterior, mais suave... A sopa foi servida 'após o toró', que 'fecha' inesperadamente o momento, o acontecer. A gente sente que tudo se alterna em diferente andamento, quase como a lembrar 'depois da tempestade vem a bonança'. - Voluntário chega com uma sopa quentinha após o toró Na frente da Catedral os moradores de rua. ---------------Clara e Nilza - Antes os mendigos, agora os moradores de rua compõem a cena talvez numa praça onde está a Catedral. Confesso que tive medo de que o renga corresse o risco de 'parar', prender-se na mesma situação (pessoas em estado de risco). Mas... a Catedral remete à praça, e a praça é espaço livre, 'é espaço do povo' (moradores de rua, mendigos, etc): todos que ali chegam são acolhidos pelo espaço/ações e o renga continua a andar, a correr também livre... - Na frente da Catedral os moradores de rua. Bando de andorinhas - O céu por alguns instantes no olhar do menino. --------------Nilza e Rose - As andorinhas (de verão, assim eu sinto) levam também nossa atenção para o vôo (movimento alto) e ao mesmo tempo que desviam da cena anterior, fazem o encadeamento com o olhar do menino (que pode ser um dos moradores de rua). A expressão 'por alguns instantes' conduz o renga com agilidade, pois tudo acontece num átimo de tempo. - Bando de andorinhas - O céu por alguns instantes no olhar do menino Uma ponta de saudade passa pelo pensamento. ----------Rose e Sandra - As andorinhas em bando dão o clima de partida ou chegada, propício à saudade, que dá continuidade ao renga levando-o com harmonia. - Uma ponta de saudade passa pelo pensamento. Revoada de pombos em torno do coreto --- Manhã de verão -----------Sandra e Carlos - Os pombos voam, geralmente fazem barulho, afinal é verão e é manhã, o horizonte se alarga... A saudade parece ir embora, como se o movimento da revoada limpasse a cena anterior, sem perder o encadeamento, pois podemos imaginar que há pessoas no coreto ('ponta de saudade/passa pelo pensamento'... 'pensamento' traz o homem...). Encadeamento perspicaz entre os versos da 1ª e da 2ª estrofe. - Revoada de pombos em torno do coreto --- Manhã de verão. A criançada na creche corre na recreação! -------------Carlos e Benedita - Tudo é movimento, a vivacidade é típica do verão: pombos (aves) e crianças (gente), todos seres vivos, alegres na claridade e calor desta estação. Encadeamento se dá pela evolução da agitação da revoada dos pombos 'livres' em volta do coreto para a correria das crianças 'presas' (num espaço fechado) na creche. Essa contraposição entre os espaços "aberto/fechado" foi sutil e movimentou/'levou' o renga com presteza. - A criançada na creche corre na recreação! As folhas ao sol lembram a arte da Criação por puro Amor... -----------Benedita e Antonio - O haicai prestigia a natureza, ou melhor, é a natureza que 'fala' ao haijin. O homem é natureza e sabe que o Amor é o fulcro do convívio em harmonia com todos os seres vivos. O mistério da Criação trazido pelo brilho/luz das flores ao sol, parece iluminar também o haijin, que sutilmente (sem explicitar), coloca-se com humildade e nos passa gratidão pela vida. Oportuno lembrar H. Masuda Goga: Quase todos os que estudam o haicai acreditam que Bashô escreveu seus poemas de acordo com a iluminação Zen. Portanto, pensam que o haicai é uma poesia que nasceu do zen-budismo. Mas o próprio Bashô disse que não era bonzo nem adepto da seita Zen, apesar da grande amizade com o bonzo Bucchô. Bashô foi espiritualmente influenciado pelo bonzo amigo, de forma profunda, tendo a sua atitude perante a arte se tornado cada vez mais rigorosa e séria. Ele ficou sensibilizado pelas vicissitudes não só da vida humana, mas também dos outros seres vivos que habitam o universo (o trecho grifado por mim, acredito, remete ao que comentei anteriormente). As crianças correm (movimentam-se) no seu viver, mas as folhas imóveis (supõe-se) recebem direto a 'luz'(criação), sem fazer qualquer movimento/ação. Encadeamento pelos opostos 'movimento Ximobilidade'. - As folhas ao sol lembram a arte da Criação por puro Amor... Caminhantes continuam pela alameda em flor. ------------Antonio e Regina - Gosto da ideia do caminhante (cada homem no caminho, no seu viver) continuar apesar das vicissitudes, isto é, apenas viver. Entregar-se ao que é traz as flores que me remetem à leveza, ao belo... e o renga caminha 'naturalmente', sem ficar 'engessado' na imobilidade das folhas (imobilidade? talvez entregues à luz natural, dádiva - do Sol; ser criatura por arte da Criação... por puro Amor). - Caminhantes continuam pela alameda em flor. O sol ardente plácido corre o riacho homens conversam ------------Regina e Antonio - E o renga continua , mas percebemos que o andamento muda: da leveza para o sol ardente, talvez dezembro (início das férias de verão) ou quem sabe fevereiro (quando terminam as férias de verão), dois meses bem quentes. Gostei da placidez do riacho contrapondo-se ao calorão que 'abate', mas o riacho está cheio devido às chuvas típicas dessa estação... as águas correm seguindo seu curso natural... e parecem levar os homens para o encontro com o outro, quem sabe sentados nas pedras ao redor do riacho... e a conversa 'rola' espontânea como as águas. - O sol ardente plácido corre o riacho homens conversam Dois pescadores de anzol enchem a cesta de peixes. ------------Antônio e Benedita - O encadeamento se dá pela água do riacho que leva dois homens à pescar. Tudo é harmonia, a conversa cessa e faz-se silêncio, podemos supor, quando os homens ficam atentos a escolher e prender iscas. Depois, imaginamos o silêncio interrompido pelo lançamento do anzol nas águas e quem sabe até pelas expressões de espanto, alegria (ou decepção) com o peixe que vem preso ao anzol e vai para a cesta. - Dois pescadores com anzol enchem a cesta de peixes. Tarde preguiçosa ― Em uníssono as cigarras na mata do rio. ---------Benedita e Carlos - Agora o encadeamento se faz por similitude de sons: antes, ruídos, expressões quase barulho 'leve' (permitam-me para ser mais clara); agora o zunir inconfundível das cigarras rompe com força, quebra de vez o silêncio e nos leva mais longe, adiante... para a mata. - Tarde preguiçosa ― Em uníssono as cigarras na mata do rio. voa, voa um passarinho sobre o mistério da tarde -------- Carlos e Rose - Percebo que a tarde finda, pela agregação da palavra 'mistério' ao último verso. O renga segue no voo do de um só passarinho. Talvez a intenção seja passar do zunir de muitas cigarras (em uníssono) para a tarde que se vai, sem pressa, no voo de 'um só' passarinho. Da tensão forte do canto estrídulo das cigarras afrouxamos para o voo do pássaro em solidão e provável silêncio, ao entardecer. Gostei da mudança de 'muitas' (cigarras) para 'um', solidão que sempre perpassa o entardecer (embora no verão haja a alegria das cores, do dia/luz que se alonga... porém, na mata, a solidão ao entardecer é mais 'visível/sentida', mesmo nessa estação). - voa, voa um passarinho sobre o mistério da tarde Apenas silêncio e o arrebol de verão - Olhar para o céu... ------------Rose e Marco - Encadeamento sutil. Sinto que o silêncio 'arde' ao sol poente, quando o vermelho intenso, vivo e brilhante cobre o céu, que parece em chamas... E quase intuitivamente, erguemos os olhos ao céu e contemplamos algo que é 'fogo', beleza do fenômeno natural. Há contemplação e movimento da cabeça para o alto que conduzem com muita sutileza, o renga. - Apenas silêncio e o arrebol de verão - Olhar para o céu... Lá sobre a Serra do Órgãos a cachoeira murmura --------------Marco Aurélio - O encadeamento traz cena de extrema beleza. A cachoeira, no verão, abundante, devido às chuvas. O curso do rio, em queda vertical. A denominação do local coloca o renga 'no chão', no real acontecer e sai do clima de silenciosa contemplação. Agora a cachoeira murmura e os sons despertam, cortam a quietude e conduzem o renga. - Lá sobre a Serra do Órgãos a cachoeira murmura Uma gota d’água Pinga, pinga persistente Perfurando a rocha -------------Benedita e Pedro - Excelente a passagem da abundância de água para um pingo e sua força. O pingo, na persistência de seu fazer/ser, perfura a rocha... Os versos me fizeram lembrar de Bashô em sua viagem pelo Japão inóspito e longínquo, especialmente ao norte. E ele continuou, enfrentando o árduo caminho para levar a poesia, praticar com os que o recebiam... e exultar ao encontrar, compartilhar e ouvir/colher tão belos poemas, sem saber que precisaria vir longe, tão longe para encontrar a beleza! Esse encadeamento (e andamento do renga) para mim é de extrema sensibilidade e percepção. - Uma gota d’água Pinga, pinga persistente Perfurando a rocha a tarde vai se esvaindo e esta chuva que não cessa. -------------Pedro Caluchi e Elisa - A chuva está de volta ligando-se perfeitamente ao pingo persistente. Tudo se esvai, o tempo (a tarde)... e faz sentir a impermanência, o transitório viver, eterna mudança, tempo inexorável. Só a chuva teima em permanecer: o último verso ('e esta chuva que não cessa) dá sensação de impaciência (nostalgia?) do homem, talvez até cansado de esperar por uma trégua (mudança meteorológica). A tarde passa, só a chuva fica, o contraditório no inabalável (tarde e chuva): tarde inexorável passa e chuva, também inexorável, parece ter vontade própria e permanece, apesar da vontade do homem consciente de que não pode mudar o que é. Este sentimento de impossibilidade, tempo e espera da mudança (nova estação?) é que,contraditoriamente conduz o renga. - a tarde vai se esvaindo e esta chuva que não cessa. vai chegando a noite cantam os pássaros pretos entre o bambuzal ------------Elisa e Severino - Oportuna a chegada dos pássaros pretos (vivem em pequenos bandos, fazem muito barulho) – indica mudança de estação: verão para outono (talvez se iniciando e nos livrando do calor abafado). Conhecido como graúna, assum-preto, melro... é inteiro negro, o que origina seu nome popular. A noite está chegando: ainda há luz e podemos vê-los no lusco-fusco do anoitecer. É um dos pássaros de voz mais melodiosa, o que nos faz imaginar a beleza da canção que passa entre as hastes e folhas do bambuzal e conceber ainda o arrepiar das penas da cabeça e pescoço, enquanto canta. Até a fêmea canta. O canto dos pássaros avisa sutilmente, que a chuva passou. O renga é levado (e nos leva) à passagem da tarde para a noite pelo canto harmonioso. O movimento dos bambus (podemos pressupor que são novos, com hastes flexíveis e folhas viçosas) completam o andamento, encadeando e levando o renga numa composição de cena cheia de formosura, diminuindo a sensação de monotonia e melancolia do outono. - vai chegando a noite cantam os pássaros pretos entre o bambuzal num farfalhar de folhas meus passos seguem a trilha -------------Severino e Elisa - A chuva cessa, os pássaros cantam e o homem (o próprio poeta?) pode seguir a trilha, o caminho que a natureza lhe aponta. O encadeamento sutil se faz pelos sons (do forte ao leve): do canto intenso dos pássaros pretos ao farfalhar (rumorejar, ciciar) de folhas. - num farfalhar de folhas meus passos seguem a trilha Noite silenciosa... só o grito da coruja rasga a escuridão! ------------Elisa e Benedita - O tempo vai com os passos do caminhante, tempo que se amplia, alonga pelo caminho (vida?) sem fim... e o grito da coruja na escuridão, lembra a 'morte' do verão e do outono, pois tudo passa na roda do viver-morrer, recomeçar no novo tempo (estação/inverno) anunciado pelo grito que rasga a escuridão. A coruja procura abrigo e alimento? O que importa é o círculo do tempo inexorável, que faz um encadeamento forte pela 'quebra' do cicio das folhas ('quase' silêncio) ao grito da coruja. E leva o renga pelo caminho (tempo inabalável do homem). - Noite silenciosa... só o grito da coruja rasga a escuridão! Passa, na noite sem lua, o jovem casal em juras. --------------Benedita e Carlos - Sim, contraditório é o tempo: transitório pelas estações, em constantes mudanças e inflexível diante do mistério 'vida-morte' (nascer para morrer... morrer para nascer). É inverno (coruja é kigo de inverno), e o encadeamento se faz pela 'noite sem lua', que reforça o escuro da cena anterior, mas sem 'colar' no negror, pois aparece 'o jovem casal em juras', o que 'ilumina' o poema de 'outra luz '(do amor? do convívio?). O que vale é o andamento e mudança de tensão intensa para afrouxamento pela cena de aconchego. - Passa, na noite sem lua, o jovem casal em juras. Silêncio na noite aves pousadas nos ramos anjos sobre a terra ---------------Carlos e Rose - Confesso que me fiquei um pouco perdida no último verso. Senti necessidade de saber um pouco sobre o que são os anjos: mais poderosos do que os humanos, vivem no céu. Seres espirituais, sem um corpo físico real, mas têm inteligência, emoções e vontade. O fato de não terem corpos não muda o fato de terem suas personalidades. Criados como uma ordem superior de criaturas no universo, em comparação aos seres humanos, é de sua natureza possuir maior conhecimento, adquirido através da longa observação das atividades dos humanos. Podemos imaginar no frio da noite sem lua, o casal em juras. E vem o silêncio das aves em pouso nos ramos... o casal em juras seria a personificação dos anjos sobre a terra? Sinto-me confusa e apreensiva - o renga vai ficar paralisado? Ou será conduzido pelos seres espirituais que adquirem conhecimento observando o casal em juras e neste caso não haveria personificação? Seriam anjos mesmo sobre a terra, mesmo sem corpo físico, mas personificados pelas aves em pouso nos ramos? - Silêncio na noite aves pousadas nos ramos anjos sobre a terra Nem passarinhos verão a morna chuva de estrelas. -------------Rose e Marco - Lindo e oportuno o último verso, 'a morna chuva de estrelas', que condiz com o clima anterior, mas traz a renovação do renga, ao propor um caminho novo, surpreendente. A chuva é morna, tépida e real, mas só vista pelos que contemplam, pelos que erguem os olhos às alturas? 'Nem passarinhos verão' reforça a natureza das alturas (céu, estrelas) a acontecer inexoravelmente, diante ou distante de qualquer olhar Parece-me que intuitivamente a primavera se insinua. - Nem passarinhos verão a morna chuva de estrelas. Chia no fogão a comida preferida pescada frita -------------Marcos e Regina - Pescadinha é abundante em setembro, e assim passamos para a alegria da primavera, cores, sons (chiados do peixe na frigideira). O renga é levado para outro lado, isto é, o acontecer passa do lado de fora (céu, estrelas) e conduz o renga para o lado de dentro (cozinha da casa) onde se dá o encontro jovial em volta da mesa... o cheiro atrai (todos? alguns?) para mesmo lugar, onde a refeição é feita com júbilo, e dá a sensação de confirmar o renascimento (do homem e do próprio renga), afinal o 'peixe' também foi o primeiro alimento oferecido ao homem na travessia do mar. - Chia no fogão a comida preferida pescada frita a mesa posta pra dois e um som suave no ar. ---------Regina e Benedita - A alegria pode ser compartida por apenas um casal (a mesa posta sugere... ) e o som suave insinua clima de romance, de paz, de harmonia. O renga caminha com sutileza e permite leve reflexão sobre a alegria como um estado de ser, estar e que independe da quantidade de pessoas...(reflexão sobre o mundo de hoje, redes sociais...) - a mesa posta pra dois e um som suave no ar. por todo o quintal sinais visíveis de chuva ah!, a brisa fresca! ---------Benedita e Severino - Adorável e pertinente esta brisa, que nos faz perceber que ainda caminhamos pela primavera... e a chuva (que já passou) faz 'liga' tênue com os versos anteriores e aprofunda o renga, com o sentido de que o que já aconteceu (a chuva de primavera, silenciosa e constante, sugerindo desprendimento, despreocupação) possa trazer outros benefícios ao findar. Assim, podemos imaginar que a chuva, ao cessar, traz o frescor, ventinho gostoso que sopra , entra pela janela e refresca o local onde está a mesa posta... talvez o casal (namorados? amigos?não importa!) se aproxime da janela e converse, sentindo o vento de primavera. Lindo sentir que o renga é encadeado pela chuva (que cessa!) e levadosuavemente pela refrescante e agradável brisa. - por todo o quintal sinais visíveis de chuva ah!, a brisa fresca! ao arrepio do sabiá horas passam no telhado. ---------Severino e Elisa - O sabiá se arrepia à brisa refrescante, e horas (muito tempo) passam no telhado. Encadeamento pelo arrepio e quem sabe, até pelo canto, às vezes nostálgico, da ave. O telhado nos aproxima do alto, do céu de primavera e seu brilho menos intenso que o de verão. Certa imobilidade do tempo, dando sensação de quietude. - ao arrepio do sabiá horas passam no telhado. amoroso encontro a noite cai na cidade não há solidão ----------Elisa e Rose - A noite vem, noite de primavera, mais suave e clara, trazendo o encontro propício que encadeia e conduz o renga pelo convívio amoroso - não há solidão, ainda que haja nostalgia do canto de um só sabiá no telhado. - amoroso encontro a noite cai na cidade não há solidão Ao sopro do vento frio um abraço aquece o casal. ---------Rose e Marco Aurélio - Sinto que é vento frio de primavera, frio menos intenso que o de inverno... um abraço dá o calor necessário aos corpos e leva a solidão embora. O andamento do renga se faz pelo abraço que 'leva' o poema, o frio e a solidão embora. Aqui também me parece que o fim da primavera se insinua, ou melhor, que o abraço sugere certa vivacidade/energia que indica mudança de estação. - Ao sopro do vento frio um abraço aquece o casal. As crianças brincam com um enorme cipó ― Campo de verão. ---------Marco e Carlos - E do recolhimento no abraço, o poema passa para a amplitude no movimento de balançar de crianças penduradas no cipó. Muito interessante esse encadeamento pelos opostos: 'fechar'(movimento de abraçar, abrigar) para 'abrir', 'ampliar' (movimento de balançar no cipó). A primavera finda, a estação é outra: é verão (de volta à estação do início do renga – o ir e vir das estações, do círculo viver-morre... renascer) – tempo de vivacidade, atividade, energia... trazidos pelo viço e frescor do verdejante campo de verão. - As crianças brincam com um enorme cipó ― Campo de verão. Sombra de corpos no chão e lá se vai a manhã... ---------Carlos e Regina - Aqui é nítido e ao mesmo tempo sutil o encadeamento entre os três primeiros versos e os dois últimos. Gosto da sensação de que tudo anda, passa, se transforma – 'sombra de corpos no chão/ e lá se vai a manhã' – no instante (tempo fugaz) que é o acontecer (a razão) do próprio haicai. Acho que o fechamento do renga é forte por trazer o sentido de transitoriedade do tempo, vida-morte que sustenta (ou leva adiante?) o renga que se movimenta como a vida-morte, no círculo inexorável do tempo, da existência. Obs sobre o título do renga: 'Chuva de verão', bem de acordo ao desenrolar do renga, onde a chuva provoca o primeiro poema e também é reiterada em outros. verão/2018 -------------------------------------------------------------------------------------------------- Referências RENGA : Chuva de verão Inspirado no haiga de Carlos Martins. Conduzido por Benedita Azevedo Comentários de Regina Alonso. Participantes: Carlos Martins, Regina Alonso, Benedita Azevedo, Sandra Hiraga, Clara Szanifer, Nilza Azze, Marco Bastos, Rose Mendes, Antonio de Jesus Anjes, Marco Aurélio Alencar, Pedro Caluchi, Elisa Campos, Severino José. Um trabalho coletivo é feito uma engrenagem onde todos as peças são imprescindíveis. Obrigada a todos que aceitaram o convite de caminhar conosco pelas estações deste RENGA. Praia do Anil, 19/01/2018, às 17h:57m Emi (恵美) Benedita Azevedo - Administradores e moderadores do grupo Benedita Silva de Azevedo administradora - Carlos Martins Regina Alonso Moderadores Publicado por Benedita Azevedo em 24/01/2018 às 01h02
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. 05/08/2017 01h21
Projeto Haicai na Escola - 2017
O Projeto Haicai na Escola - Criado pela professora Benedita Azevedo, em 04 de outubro de 2004, com o objetivo de levar incentivo à leitura e à escrita nas escolas de Magé e adjacências, classificou 4 de seus 23 participantes no 16º Concurso Brasileiro de Haicai Infanto Juvenil - 2017, promovido pelo Grêmio Haicai Ipê - SP, sob coordenação da mestra de haicai, Teruko Oda. - Neste ano participaram do concurso, 2013 alunos, de 37 escolas, orientados por 66 professores de vários estados brasileiros. O Projeto Haicai na Escola selecionou 23 trabalhos de participantes de 7 turmas do CIEP BRIZOLÃO 127 – FREI ACURSIO ALOISIO GONZAGA BOLWER, PIABETÁ - MAGÉ - RJ ------------------
NOSSOS ALUNOS CLASSIFICADOS - CATEGORIA JUVENIL II (15 A 17 ANOS)
3º lugar
CIEP BRIZOLÃO 127 – Frei Acursio Aloísio Gonzaga Bolwer - Magé - RJ Weslley Braga Ribeiro – 17 anos Professores: Benedita Azevedo e Deneir de Sousa Martins - Caminho da escola Meninos soltam pipa Na minha rua.
7º lugar
CIEP BRIZOLÃO 127 – Frei Acursio Aloisio Gonzaga Bolwer Magé – RJ Allan Soares Ferreira – 15 anos Professores: Benedita Azevedo e Deneir de Sousa Martins - Na volta da escola Um clarão sobre a estrada Noite estrelada.
MENÇÕES HONROSAS — CATEGORIA JUVENIL II
2º lugar CIEP BRIZOLÃO 127 – Frei Acursio Aloisio Gonzaga Bolwer - Magé - RJ Anderson Palutine Gomes dos Santos – 17 anos Prof. Deneir de Sousa Martins - Na tarde tão fria Sinto os pés a congelar Ao chegar na escola.
6º lugar CIEP BRIZOLÃO 127 – Frei Acursio Aloisio Gonzaga Bolwer - Magé – RJ Juan Vitor Teixeira F. da Rocha – 17 anos Professores: Benedita Azevedo e Deneir de Sousa Martins. - Brilha o sol da tarde Sobre a água da calçada. Caminho da escola. ------- Praia do Anil, Magé-RJ / Inverno de 2017 Benedita Azevedo Fundadora do Projeto Haicai na Escola/2004 Grêmio Haicai Sabiá / 2006 Grêmio Haicai Águas de Março / 2008 ACLAM - Academia de Ciências, Letras e Artes de Magé / 2011 Publicado por Benedita Azevedo em 05/08/2017 às 01h21
05/08/2017 00h30
16º Concurso Brasileiro de Haicai Infanto-Juvenil
16º Concurso Brasileiro de Haicai Infanto Juvenil - 2017 1º A noite chega 2º
3º Caminho da escola 4º
5º
6º
7º
8º
9º
10º
MENÇÕES HONROSAS — CATEGORIA JUVENIL II
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05
06 Brilha o sol da tarde
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Publicado por Benedita Azevedo em 05/08/2017 às 00h30
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